segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

ADVERTÊNCIA AO LEITOR



No momento de reimprimir esta obra propus-me fazer de tal modo que nela nada faltasse do que pode dar a um estudante o gosto da filosofia. E, querendo pôr aqui todo o conjunto da especulação filosófica, pareceu-me útil apresentar, na sequência do estudo sobre Hegel, o sistema de Comte que não é menos completo que o de Hegel, nem menos livre. Por esta exposição, ela mesma completada como explicarei, penso ter justificado o subtítulo: Introdução à filosofia. Porque, na minha opinião, não existe sistema que conduza tanto à reflexão e mesmo à invenção como o denominado de Positivismo. Com uma condição, que creio estar aqui satisfeita, é que a aparência dum dogmatismo sem nuanças seja completamente retirada. Espero ter dado aos desenvolvimentos de Comte um pouco mais de ar, de modo que complete com mais felicidade o sistema de Hegel, o qual será sempre demasiado acabado para esclarecer o estudante. Lamento apenas ter falado com demasiada brevidade de Aristóteles, o príncipe dos filósofos, e de não o ter apresentado todo inteiro com a sua inimitável profundeza e o seu peso de natureza. Todavia, Hegel pode desempenhar o papel de Aristóteles, porque é o Aristóteles dos tempos modernos, o mais profundo dos pensadores e aquele que entre todos mais pesou nos destinos europeus. É preciso convir que Hegel é bastante obscuro e propriamente metafísico. Esta filosofia é uma história do Espírito e certas passagens podem desgostar os leitores rigorosos por isto que resultam sobretudo duma espécie de inspiração poética. Todavia, pareceu-me que esta prova seria útil aos aprendizes. Acontece que na altura mesma em que Hegel dava os seus famosos cursos seguidos pela elite do seu tempo, entre nós, Auguste Comte tentava a mesma coisa com o mesmo sucesso. Por estas analogias, pude traçar um desenho de toda a filosofia real, capaz de relevar este estudo, presentemente abandonado por falta de coragem. Nestes grandes homens que quis fazer aparecer nestas páginas, o estudante encontrará o mestre que lhe convém. Tendo muitas vezes desejado escrever um Tratado de Filosofia, dá-se que o escrevi, e ei-lo aqui.


Alain
(tradução de José Ames)
 
21 de Abril de 1939

1 comentário: